SEBASTIÃO ARAÚJO
Sebastião Araújo,preparador físico e técnico de futebol






PortalBARRA: Conte um pouco sobre sua experiência de vida no futebol.

Sebastião Araújo:
Comecei como jogador da Portuguesa em 1961. Depois me tornei treinador da Portuguesa até 1965. Um ano depois, fui para o Fluminense - quando ele era um "timaço". Em 1977, fui para a seleção brasileira. Participei da Copa do Mundo na Argentina em 78, como preparador físico do técnico Cláudio Coutinho. Em 1979, fiquei no Fluminense. Depois, passei 21 anos fora do Brasil. Foram 5 anos no Quatar, 9 anos em Baharem, 1 ano na Arábia Saudita, 1 ano nos Emirados Árabes, mais um ano em Trinidad-Tobago e os últimos 3 anos em Hong Kong, na China.

PortalBARRA: Você pretende continuar trabalhando aqui ou já "pendurou as chuteiras"?

Sebastião Araújo: Como fiquei fora do Brasil durante muito tempo, fiquei esquecido aqui. O meu campo hoje é na China, no Oriente Médio e no Caribe. Nestes locais, sou muito conhecido. Nunca se sabe o dia de amanhã de futebol. Posso até voltar...


PortalBARRA: Qual é o seu time do coração?

Sebastião Araújo: Não tenho. Como trabalhei 13 anos direto no Fluminense, tenho muito amigos lá.


PortalBARRA: Qual foi o momento mais marcante em toda a sua carreira?

Sebastião Araújo: Tem muitos. Só aquelas copas do Golfo, que a gente ganhava as eliminatórias para a Ásia...Tem tanta coisa marcante que é até difícil de enumerar. Me lembro, por exemplo, do Fla X Flu que participei no Maracanã e dali fui direto para o Quatar, foi muito emocionante. Os próprios jogos da Seleção Brasileira...


PortalBARRA: Como você se comunicava com os jogadores estrangeiros?

Sebastião Araújo: Todo treinador que saía do Brasil levava um intérprete. Na primeira vez que saí do Brasil, não levei intérprete. Normalmente o treinador brasileiro só falava português e o preparador físico falava inglês. Na Arábia Saudita, o treinador falava em português para o treinador, que transmitia em inglês para um intérprete árabe, que transmitia para os jogadores. Então a mensagem ficava muito longa e muitas vezes chegava ao final deturpada. A entonação de voz não era a mesma. Aí eu resolvi aprender árabe. Em 3 meses já estava falando e passei a falar diretamente com os jogadores. Quando voltei para Baharen, onde todos os jogadores falavam inglês, passei então a me comunicar em inglês. Em Hong Kong, que também foi uma colônia inglesa, não houve a necessidade de aprender chinês, pois todos falavam inglês.


PortalBARRA: O árabe é um idioma muito complicado?

Sebastião Araújo: Com um vocabulário de 150 palavras dava para me comunicar com os jogadores, pois o dia a dia é repetitivo. Não dava é para fazer conferências...


PortalBARRA: Você passou por alguma situação difícil em sua estada nos países árabes, que estão permanentemente em guerra?

Sebastião Araújo: Várias. Nas duas guerras, eu estava lá e até dava entrevista para a Globo, para a Record contando as situações de guerra. Na primeira guerra Irã-Iraque, que foi de 81 a 87, mesmo eles estando em guerra na fronteira, os jogadores iranianos e iraquianos participavam de competições de futebol. Mas a pior de todas foi a guerra do Sadam Husseim. Em 1990, quando ele invadiu o Kwait nós estávamos em Baharem, uma ilhazinha no meio do Golfo. Tudo ficou fechado, inclusive os aeroportos. Baharem foi dividida em duas bases: uma metade americana, a outra metade inglesa. Ninguém podia sair nem entrar. Esta guerra durou 1 ano.


PortalBARRA: Como você conseguia conviver numa situação longa de guerra?

Sebastião Araújo: Na primeira semana, foi muito apavorante, pois correu um boato de que o Sadam Husseim tinha armas químicas. Pela televisão éramos orientados sobre os procedimentos a serem tomados se caísse uma bomba química. Existia um quarto em nossa casa todo vedado com velas e mantimentos para o caso de emergência, onde ficaríamos acompanhando por um rádio de pilha, pois as luzes deveriam ser desligadas. Quando saía um escudo do Sadam Husseim, as sirenes todas tocavam no país. Ninguém sabia para onde aquele escudo estava se dirigindo. Nesta hora, todo mundo se recolhia.
Na segunda semana, a gente se acostumou com a guerra. Muitas vezes, estávamos fazendo churrasco na praia em frente à nossa casa e víamos um escudo passando no ar, o anti-escudo "patriota" americano pegava no ar, as duas bombas explodiam, as casas estremeciam. Quando as bombas explodiam, todos pegavam o carro e corriam para pegar um pedacinho dos estilhaços que caíam, para guardar como recordação.


PortalBARRA: Aconteceu então a "banalidade"da guerra...

Sebastião Araújo: Exatamente. É só ver hoje as cenas de guerra do povo palestino, onde pessoas passam pelas ruas no meio de tanques de guerra e tiroteios. Eles estão tão acostumados com esta situação que vão até sentir falta quando a guerra acabar

 
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